Meus textos

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Mundo paralelo

E incrível como nós simples, fracos e imaturos imortais nos esforçamos por criar mecanismos de defesas com o único objetivo de burlar a escola da vida quanto usa o sofrimento como metodologia de ensino. Preferimos evitar, dores e frustrações mesmo sabendo que o consternação pode ser ferramenta de Deus para nos aprimorar.

Para poupar-nos de angústia s e amarguras começamos a desenhar pequenas “áreas de escape” para esquivar das situações incômodas, contudo um dia qualquer notamos que evoluímos em nosso arquitetismo ilusionista que fomos capazes de transformar nossas áreas de escape num mundo paralelo. Tal mundo é desprovido de problemas e inconfortos existentes em nossa rotina que compõe nossa enfadonha realidade.
Antigamente esse cenário era perfeito, lindo, limpo, claro e lúdico. Uma mistura da poesia de Sheskepeare, contos infantis com finais felizes e tudo isso envolto ao manto da moral religiosa. Os sonhadores eram ternamente puros.

Hoje o mundo de faz de “faz contas” elaborado por nós é mais sujo, gótico, escuro, sem espaço para cores quentes e vibrantes, Os príncipes são imperfeitos, imorais, vulgares, triviais e banais. As princesas por sua vez já não brilham como sol incrustado no centro do céu, são princesas com coração de plebéias infelizes, traumatizadas, decepcionadas consigo mesmas e com os outros. Juntos dão vida a uma paisagem acinzentada. Vivem unidos longe dos padrões do certo e errado. Infelizes sabem a mórbida vida que levam.

Numa tentativa desassossegada de encontrar tranqüilidade e paz interior, tentamos fazer a fusão entre a “vida paralela” e a “ vida real” mas descobrimos que elas são incompatíveis  e se diferem em sua essência feito água e azeite. De forma que um dia acordamos e resolvemos implodir o mundo fantasioso que criamos, fechamos as áreas de escape, enjoamos das fantasias, olvidamos as quimeras e abandonamos a vida irreal e as vezes virtual.

È sempre mais belo e inteligente viver o verdadeiro, enfrentar a vida de frente, vencer e perder fazendo o melhor, se alegrar e entristecer desmoderadamente e sem paliativos.  Conhecer vilões e heróis que estão ao alcance de nossas mãos e braços ao invés daqueles que outrora  idealizávamos.

Marcus Grovo



09.01.12

Sou melhor escrevendo “meias” palavras do que usar palavras inteiras. Compartilho minha escrita mais com pensadores do que com rasos, simplistas e gramáticos leitores.
Gosto de pensar as entrelinhas, refletir sobre os sentimentos implícitos e racionalizar o branco da folha antes de compreender a tinta jogada nela.
Os caçadores de sinônimos estranhos e pouco usados não me atraem, mas confesso meu fraco por aqueles que revelam a alma de suas intenções literárias.

Marcus A. Grovo

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Recuperação


“Famigerada, terrível, odiosa”. É assim que tratamos uma ladeira de morte de uns oitocentos metros e que ironicamente termina em frente à Faculdade de Biologia da USP. Ela é o batismo de quem quer se considerar um corredor. Aqueles que conseguem domá-la não temem qualquer outro percurso. Encontram-se devidamente preparados para as competições. Ressalva a tempo: nessas competições o único adversário é você mesmo e os quilômetros que separam a faixa da largada do anúncio da chegada. Os corredores amadores não nutrem a mínima pretensão de chegar em primeiro lugar, basta completar a prova.
Recordo-me do dia em que derrotei a famigerada pela primeira vez. Cheguei ao topo com o coração irado e reclamando. O ar, subitamente rarefeito, não chegava aos músculos, minhas pernas se embriagaram. Mas depois, treinando para uma maratona, acabei tirando o aguilhão da odiosa. Não a respeito como antigamente! Já consegui subí-la por sete vezes consecutivas. Corro e encaro meus desafios com o mesmo vigor daqueles tempos que ainda não celebrara meus quarenta anos. Mas, algo vem acontecendo comigo e com o meu corpo, nesta véspera de celebrar os cinquenta. Para me recuperar do esforço de correr, preciso de períodos cada vez mais longos de descanso.
Constato que isso não me acontece só em corridas. Antigamente terminava de pregar um sermão, saía para jantar com amigos, voltava para casa de madrugada e já na segunda-feira cedinho encarava qualquer nova aventura. Agora sinto dificuldade para me levantar da cama. Meu corpo, minha mente, meus sentimentos me amarram aos lençóis e não me deixam funcionar bem até que o processo de recuperação aconteça completamente.
Há outros exemplos até mais constrangedores: do sexo às refeições. A idade me cobra intervalos mais longos para me recondicionar e me declarar apto novamente. A princípio nem notei, agora bem apercebido, entristeci. Porque à medida que envelhecemos, precisamos desses hiatos longos? Há alguma verdade escondida além do óbvio? Não me satisfaço com a resposta de que o maquinário se desgastou ou está ultrapassado.
Já sei! Na velhice precisamos de maiores intervalos para degustar a vida demoradamente. É uma forma da natureza nos obrigar a não pular apressadamente para uma nova experiência, sem antes saboreá-la com calma. Na juventude, acabávamos de viver um romance, experimentar o sexo, saborear uma torta, ver uma pintura, ouvir uma música, declamar um poema, rir de uma piada, ouvir um sermão e já estávamos ávidos para mais. Agora não! Nem queremos que venha logo a próxima experiência. A vida nos obriga a ficar com o seu gosto na boca por mais tempo. Eu chamava esses hiatos antigamente de recuperação, hoje eu chamo de felicidade.
Se já não saio de minhas dores com facilidade, se elas grudam em mim, me obrigam a sofrê-las, tatuá-las em minhas entranhas, o mesmo acontece com as minhas alegrias. Já não me despeço delas com rapidez; sei o quanto custam.
Envelhecer não é tão ruim, como eu imaginava.
Soli Deo Gloriaoli Deo Gloria

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

"Meu filho não merece nada"

 



A crença de que a felicidade é um
direito tem tornado despreparada
a geração mais preparada.

Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.


Por Eliane Brum*
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*Eliane Brum escreve às segundas-feiras na Revista Época

terça-feira, 19 de julho de 2011

fotos página: 05


Dormindo na rodoviária esperando os manifestantes liberarem a estrada na volta para Lima-Perú


Traduzindo sermão do Pr. Clau em Villa Salvador  Lima-Perú



Primeira vez que peguei Angelin no colo.



Tomando emoliente com: Lu, Pablo, Clau.   Saudades....



Dando aula para os seminaristas em São Paulo - Brasil



Algum lugar de São Paulo



Parque das Lendas Lima- Perú


Barra do Quaraí, fronteira entre Brasil e Uruguay



Museu de Callao o mais bonito do mundo segundo o Pr. Paulo