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segunda-feira, 28 de março de 2011

Margaretha Adiwardana, a "formiguinha incansável do evangelho", presidente da AME


Cerca de 250 pessoas entre pastores, missionários, estudantes de centros de treinamento bíblico, preletores e leigos vindos de vários Estados do Brasil, de outros países e de várias igrejas e denominações se reuniram no Seminário Teológico Servo de Cristo, na Vila Mariana, em São Paulo, para a Consulta Missionária da Associação Missão Esperança (AME) entre 4 e 6 de setembro.
Sob a direção da missionária Margaretha Adiwardana, a "formiguinha incansável do evangelho", presidente da AME, o evento trouxe da Indonésia e do Timor Leste irmãos que desempenham um trabalho estratégico. Entre os palestrantes, Donald Price, Durvalina Bezerra, Nelson Bomilcar, Paulo Moreira e Silas Tostes.

Teologia Brasileira – Como surgiu a AME e porque o Timor Leste é uma porta promissora para a Igreja Evangélica Brasileira?
Margaretha Adiwardana – Como o Timor Leste foi por quatro séculos e meio uma colônia de Portugal e apesar da invasão da Indonésia – a eliminação da educação na língua portuguesa, uma geração inteira de timorenses que fala a língua indonésia –, apesar de tudo isso o governo do Timor escolheu a língua portuguesa como a sua língua oficial, junto com o tetum [idioma local predominante]. Assim, abriu uma necessidade de os próprios timorenses aprenderem a língua portuguesa. Então, em primeiro lugar, não tem muitas igrejas no mundo que podem suprir essa necessidade de professores de língua portuguesa... [risos]
Em segundo lugar, como "irmão", como país também colonizado por Portugal. Há entre o Timor Leste e o Brasil uma ligação emocional, além de histórica. Os timorenses gostam dos brasileiros por diversas razões. Eles nos chamam de "irmão mais velho", pelo fato de o Brasil ter sido colônia de Portugal também. Eles gostam dos brasileiros porque são mais calorosos, mostram mais a emoção, diferente de muitas das nações que têm ajudado o Timor Leste, tanto por meio das forças da paz das Nações Unidas como por meio de várias ONGs. Não por último lugar, o próprio Timor Leste está pedindo ajuda de todas as nações do mundo, mas com o Brasil há uma sintonização maior.
A ajuda que a igreja brasileira pode dar pode ocorrer em todas as frentes: saúde, educação, agricultura e na área técnica, para não falar na área espiritual, em que a necessidade é claramente imensa. De acordo com o que ouvi falar, o Timor Leste pode se tornar um país fechado religiosamente. Então, a Igreja Timorense precisa de ajuda para que fique de pé sozinha, caso o país venha a se fechar. Então, de todas as formas a Igreja Brasileira é necessária para ajudar o povo timorense. Vendo esse quadro de destruição do Timor Leste, que precisa de ajuda para se reerguer, simplesmente é impossível o país ser uma nação soberana, de Direito, sem ajuda do exterior.
Por que não a Igreja Brasileira, que vai levar toda essa ajuda prática, como também uma mensagem do Evangelho que é necessária para curar traumas, feridas, ódios, amarguras, um acúmulo de sofrimentos, um ciclo de vingança? A necessidade é pela paz, pelo perdão, pela transformação que cura o povo. Daí, levando em conta tudo isso, e a situação emergencial do Timor Leste, não dá nem tempo de preparar missionários por cinco anos para entrar no Timor. A situação é agora. Não é amanhã que eles precisam de ajuda na prática.
A AME nasceu no Timor Leste, com uma necessidade real, com o povo timorense pedindo ajuda. A AME tem feito isso, levamos o ministério integral, que acredito que é bíblico, que é corpo, alma e espírito. E lembro que é um país de perseguição aos evangélicos. A ministração integral é uma ministração que abre o coração das pessoas para desejarem saber do Evangelho e do estilo de vida dos evangélicos que estão dando ajuda real, na prática.

TB – Qual tem sido a reação da Igreja Brasileira ao desafio da obra no Timor Leste?
MA – Eu diria que mais do que em qualquer outro país, a Igreja aqui fica muito interessada no Timor Leste porque assistiram na televisão durante alguns meses a destruição do país, as tropas brasileiras que até hoje estão sendo enviadas, o Sérgio Vieira de Mello [diplomata brasileiro que coordenou as ações da ONU no Timor e posteriormente morreu em atentado terrorista no Iraque]. Mas entre se interessar e enviar missionários existe uma diferença... Muitas pessoas individualmente ficam interessadas porque é atrante para as pessoas saber que seus conhecimentos podem ajudar ao povo timorense. Novamente, entre se candidatar e chegar ao campo também há uma diferença muito grande. Apesar de muito interesse, então, não se pode dizer que a Igreja está enviando em número compatível com o interesse demonstrado.

TB – Qual a sua avaliação do quadro de missões no Brasil, tanto em números quanto em preparo teológico e em termos de motivação dos que estão seguindo para os campos e dos que estão enviando?
MA – Ultimamente tem havido grande aumento em número de missionários brasileiros que estão sendo enviados para fora do Brasil. Porém, se compararmos com o número de evangélicos no Brasil – que de acordo com o IBGE são 26 milhões –, se somos cerca de 3 mil missionários evangélicos, é muito pouco. Numericamente falando, é pouco.
Quanto ao preparo teológico, acredito que ainda deixa a desejar. Muitos que vão não tiveram preparo. Apesar que ultimamente, também, o preparo transcultural e missiológico tem melhorado muito. O nível da missiologia no Brasil, no nível das igrejas que se esforçam, dos missiólogos que se esforçam, não perde para nenhum país, nem mesmo de primeiro mundo, nem mesmo dos países da Europa ou dos Estados Unidos que já fazem missões há mais de cem, há duzentos anos.
Só que poucas pessoas fazem e têm acesso a isso. Por causa da geografia, acredito eu, além das denominações, é tudo muito espalhado. Então, o que acontece em uma região, apesar de levar o nome "nacional", as outras regiões não ficam sabendo, não é espalhado uniformemente, com grande alcance. Há igrejas e denominações que fazem missões transculturais enviando para fora e sem estar conscientes de que há essa necessidade de preparo transcultural, preparo missiológico, e aí a coisa deixa a desejar.
Mas, no meu entender, o preparo teológico é pior do que o preparo missiológico. Há uma dicotomia, até, às vezes. Quem faz preparo teológico acha que não precisa mais do missiológico. Quem faz preparo missiológico, porque ouviu falar das falhas dos missionários transculturais, não pensa que há necessidade de preparo teológico. Hoje o preparo teológico é imprescindível para ir aos países, principalmente de povos não alcançados, porque o budismo está em radicalização, o islamismo nem se fala, o islamismo está preparando teólogos especificamente para combater a teologia cristã. O hinduísmo também. Não é só o ateísmo, como na Europa materialista e cientificista, exigindo capacidade de discussão científica, mas também todos estes outros desafios.
Então, quem vai pra fora, não só tem de ser preparado culturalmente, como teologicamente, senão nem vai saber responder às perguntas, nem na teologia, muito menos no evangelismo. Então eu creio que tem que ser martelado os dois lados: preparo teológico e preparo missiológico. Uma coisa não anula a outra.

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